O fim de uma marca: novo Gate's

O Gate's Pub, um pub londrino com a alma e identidade de Brasília, surpreende seu público e abre mão de 36 anos de história da sua marca para atar-se a uma personalidade efêmera e sem essência. O fim de uma era underground marca o início de uma nova gestão do empreendimento.

O Gate's Pub nasceu em 1978, inspirado pelo estilo dos bares de periferia do Reino Unido. O espaço contava com uma área de jogo de dardos - marca registrada do Gate's - e um pequeno balcão, nada mais. Em meados dos anos 80 ganhou um palco, onde se apresentavam grupos de MPB, jazz, blues e rock, e logo começou a ganhar fama na cidade, que era carente de atrações desse tipo.

Para a Capital do Rock não havia ambiente melhor. Em Brasília, onde nasceram Capital Inicial, Plebe Rude e Legião Urbana, o Gate's funcionava como inspiração e atraía jovens da cidade que buscavam um inferninho com diversão e música de qualidade. Vários nomes importantes - Luiz Melodia, Renato Russo, entre outros - passaram por lá e muitas bandas brasilienses nasceram e se consagraram ali. O Gate's sempre foi conhecido como uma incubadora de novos talentos e incentivador de bandas locais.

Para a Capital do Rock não havia ambiente melhor que o Gate's, incubador de novos talentos e incentivador de bandas locais (imagem: Veja Brasília)

Ao todo o local abrigou mais de 2.000 shows e recebeu diversos prêmios. Tudo isso é reflexo de uma marca forte, com consumidores fiéis, que fez história na cidade. Tanto que, depois de 36 anos e diversos donos, o Gate's continuou adorado pelos saudosistas e freqüentado pela nova geração. O segredo da longevidade? A marca fez durante todos esses anos pequenas mudanças e adaptou sua estrutura ao público sempre que necessário, sem jamais perder seus valores e sua forte identidade: oferecer boa música - nos estilos pop, rock e antigo - em um clima intimista e underground.

Mas quem passou pelo local mês passado se surpreendeu, o Gate's ganhou novos ares e se reinventou totalmente, de Gate's Pub passou a ser Gate's Lounge Bar. Um choque para o público fiel e uma total negação da história da marca, solidificada durante tantos anos. Ao meu ver a nova gestão manteve o nome Gate's para aproveitar sua força, mas trocou a assinatura para tentar, em vão, justificar o crime que cometeu com a marca (uma analogia a esse caso seria comprar o McDonald's, trocar a assinatura, e começar a vender salada).

Antiga e nova identidade visual do Gate's, a troca do teclado por um brasão dourado com coroa já nos diz muito sobre a nova essência do local

A fachada apresenta a mesma arquitetura tradicional, mas encontra-se tapada com uma nova identidade visual, que por si só já nos diz muito da nova essência adotada pela marca. No lugar do tradicional teclado, símbolo do inferninho das bandas locais de pop e rock, um brasão dourado com uma coroa, símbolos elitistas e sem força de identidade. No interior, no lugar do clima underground, um tapete vermelho no fumódromo e Veuve Clicquot decorando o balcão. Parece que a burguesia invadiu de vez a garagem brasiliense. O inferninho de bandas barulhentas agora dá lugar à shows de axé, sertanejo e matinês. Tentam nos dizer que hoje o mercado mudou, o jovem brasiliense mudou. Ele não tem mais tempo para o rock, ele não mais monta bandas de garagem.

Antes e depois: agora o Gate's tem uma fachada maquiada e uma identidade "de tudo um pouco"

Ao invés de recuperar a essência do Gate's, ou fechá-lo de vez para abrir algo novo, a nova gestão da marca resolveu manter o que fazia sucesso (como o nome e o evento Dancin' Gate's) e jogar fora todo o resto, maquiando a marca com clichês efêmeros que geram audiência rápida hoje em dia. Em resumo, não virou uma coisa nem outra, uma identidade foi perdida e nenhuma outra foi criada no lugar. Novos consumidores virão e novas épocas também, mas será que esse gigante do rock pode resistir como sendo "um lugar de modinha"? Para mim não há marca que dure sendo de tudo um pouco.

O rock morreu, bebê.

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2 coments

Falando sem conhecer o lugar, a anterior não era lá essas coisas mas havia uma relação com música e esta parece um clipart roubado. Brega como o novo público (ávido por coisas "chiques") que o lugar parece querer conquistar.

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Também acredito que a parte gráfica deixa a desejar em ambos os casos, mas o posicionamento era bem estruturado anteriormente e, em menos de um mês, ele foi completamente destroçado e substituído por outro nada concreto. Brasília realmente tem esse problema do "wanna be rich".

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