Tóquio 2020: o abstrato toma forma

Os emblemas dos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 foram revelados recentemente e vem sendo alvo de duras críticas. Algo normal para uma identidade visual tão simples e ao mesmo tempo tão desconstrutiva.

emblema Toquio 2020

Esses são os emblemas oficiais dos jogos olímpicos de Tóquio 2020, lançados no final de julho. Não os entendeu muito bem? Eu tampouco, por isso fui buscar as explicações oficiais.

Segundo o Comitê Olímpico primeiro símbolo ilustra a letra “T” que neste caso representa “TOKYO, TOMORROW E TEAM”. O paraolímpico ilustra o sinal “=” que representa a igualdade. O círculo - presente em ambos os emblemas – representa um mundo mais inclusivo.

O preto - que é a combinação de todas as cores - representa a diversidade. E o vermelho, o poder de cada coração que bate. {Vale lembrar que também é o sol que da bandeira japonesa}


A ESSÊNCIA

Quando o mundo se juntar para Tóquio 2020, nós vamos vivenciar a alegria de nos unir como um time. Ao aceitar todos do mundo como iguais, nós vamos aprender o completo significado de ‘ser um só’. Os emblemas de Tóquio 2020 foram criados para simbolizar o poder dessa unidade.” Site Oficial Tokyo 2020.
A identidade da marca e o logo em si foram criadas pelo designer Kenjiro Sano, que teve o seu trabalho escolhido dentre outros 104 concorrentes. O designer é conhecido no país pelos seus trabalhos bem humorados e atua em diversas áreas criativas. Já ganhou diversos prêmios no Japão e no exterior também.

Kenjiro Sano works
Trabalhos de Kenjiro Sano


O PROBLEMA

Apesar de não gostar da cartela de cores confesso que é interessante encontrar algo que nade contra a corrente gráfica dos eventos anteriores, e que tenha raízes genuínas na arte japonesa.

logos olímpicos  2012 2016 2020

Emblemas oficiais olímpicos

Mas, depois de ver o vídeo explicativo, meu medo é que tenha ficado muito arte abstrata e pouco marca comunicadora.



Quanto à tipografia, me parece bem ocidental para todo o significado oriental {estão dizendo que é uma versão reformada da Clarendon}. Suas serifas retas acabam desapontando um pouco quem esperava a combinação de símbolos geométricos e fontes sem serifa. Talvez ela queira trazer um pouco mais de detalhe para o conjunto tão minimalista.

Mas o mais provável é que essa identidade seja vista como uma evolução saudosista à de Tóquio de 1964 do também artista Yusaku Kamekura {agora o amarelo ocre faz sentido, verdade?}. Afinal, os japoneses são muito devotos às suas tradições.


Tokyo olimpics


Mas o maior problema {e trunfo} da identidade reside na sua simplicidade, que dá abertura a diversas interpretações, ainda mais nesse mundo tão conectado hoje em dia.

Representar a diversidade por meio de símbolos geométricos que são padrões universais é bem complicado, e ordena-los de uma maneira inédita e inovadora é um trabalho bem difícil. Ainda mais para criar uma marca global como a dos Jogos Olímpicos.

PLÁGIO?

É quase 'de praxe' do mercado acusar uma marca de plágio em algum momento. E com os emblemas de Tóquio 2020 não foi diferente.

A justiça Belga vai mover um processo contra o Comitê Olímpico Internacional (COI). O designer Olivier Debie alega que o trabalho é uma cópia da marca do Teatro de Liege, lançada em 2013. Ele pede que o Comitê pare de usar o emblema.

Tóquio 2020 (lançada em 2015) e Teatro de Liege (lançada em 2013)

Nunca sou de dar muitos ouvidos à boatos de plágio, para mim boas ideias nascem simultaneamente em várias partes, e é normal que coisas saiam parecidas, ainda mais com toda essa exposição tecnológica que há hoje em dia. Mas acho que esse caso passou do bom senso. Realmente as marcas são similares: proporção, posição e quantidade dos elementos, montagem final, tipografia... enfim, quase tudo. Eu também estaria bem nervosa se fosse o designer Belga.

O Comitê insiste que investigou internacionalmente todas as marcas comerciais registradas antes de anunciar a arte final. O designer japonês afirma que jamais havia visto a outra marca. Palavra por palavra vamos ver quem ganha. {Pessoalmente acho bem difícil o belga ganhar essa, por mais que tenha razão.}

Ainda faltam 5 anos para os jogos, e muitas interações e desconstruções ainda serão feitas com essa identidade. Acredito que a melhorarão muito com pictogramas e combinações gráficas mais dinâmicas, deixando a marca um pouco mais comercial, sem perder sua delicadeza japonesa.

Como os japoneses dizem, "2020 está logo aí". Vamos esperar para ver.

Uma nova era: o novo logo GOL

A GOL apresentou essa semana várias novidades para sua marca. Novidades que vão desde o redesenho da identidade visual até alterações de produtos e serviços. Mas, mais importante que discutir o que mudou é discutir por que mudou.

A GOL realizou um evento para mostrar em primeira mão as novidades da marca. A volta dos snacks gratuitos, poltronas com mais espaço e internet sem fio para todas as aeronaves são algumas das propostas da marca. Tudo isso acompanhado, claro, de um redesenho gráfico do logo e das aeronaves. E - segundo os executivos - sem nenhum custo adicional nas passagens.

Mudanças estruturais de marca quase sempre vem associadas com mudanças gráficas para tornar o processo mais perceptível ao consumidor e para refletir essa nova era. Relembre o caso Iberia


Novo logo GOL (antes e depois)


O NOVO LOGO

O trabalho de redesenho ficou à cargo da agência AlmapBBDO (também criadora do comercial do Boticário “Toda forma de amor”), que é dirigida pelo publicitário Marcello Serpa, um dos diretores de arte mais premiado no Brasil. Talento e reconhecimento não faltam, mas o resultado gráfico final deixou a desejar na minha opinião. Apesar de gostar do ajuste de cores e do elo criado entre os “os”, a tipografia não convenceu. Saiu de traços dinâmicos para letras estáticas e até diria, um pouco infantis, algo não muito condizente com a postura digital vanguardista que a empresa está tomando.
“Este elo representa ainda a união, afinal, a Gol aproxima as pessoas a seus sonhos e destinos.” Marcus Sulzbacher, diretor de criação de design da AlmapBBDO

Aqui você pode encontrar mais detalhes. Porém, mais importante que discutir cores e traços é discutir o porque das mudanças, o que elas representam para a marca GOL, para seus clientes e para o mercado brasileiro. É enxergar os motivos dentro do contexto geral.

Nova aeronave (antes e depois)

Construção gráfica da cauda da aeronave (fonte: site voegol)

POR QUE MUDAR?

Para mim essas mudanças vieram como um “Fala que eu te escuto” da empresa, o que parece muito interessante nesse contexto de mercado que estamos vivendo atualmente.

A GOL sempre se viu como uma companhia aérea “low cost” , mas não necessariamente foi vista dessa maneira pelo consumidor. A marca criou experiências e serviços diversos para reduzir custos, que são característicos de companhias “low cost” mas não baixou os seus preços a ponto que os consumidores a percebessem como digna dessas atitudes.

O consumidor não se importa em não ter comida grátis em voos nacionais, ou ter um espaço reduzido entre as poltronas - quem nunca se rendeu à Ryanair - desde que isso implique em um preço mais baixo que à média do setor. Como a GOL não conseguiu aplicar um preço que justificasse o serviço “low cost” a experiência do consumidor fica com um saldo negativo. O resultado? Inúmeras criticas à marca.

Quando o serviço não corresponde à percepção de preço do consumidor o saldo final é negativo


As opções para deixar positiva essa equação – preço e serviço – eram basicamente duas: Ser realmente uma “low cost” e baixar ainda mais os preços, ou melhorar os serviços para justificar os preços mantidos. Eu imagino que depois de muito queimar os neurônios para resolver esse problema a marca chegou à uma boa resposta.
“Somos a mesma GOL, com o DNA de baixo custo, só que agora com mais serviços, produto superior e na vanguarda do setor.” Paulo Kakinoff, presidente da Gol

O RESULTADO

As mudanças foram claramente um passo diferente no caminho que a marca estava seguindo. A GOL resolveu melhorar seu serviço e sua percepção de marca e ainda inseriu diferenciais de mercado, como a internet sem fio em todas as aeronaves. As parcerias com a marca gogo (líder mundial em internet para aeronaves) e Mãe Terra (marca alimentícia brasileira de produtos naturais e orgânicos) foram estratégicas e impactarão positivamente sobre a imagem da GOL.

Parcerias positivas: Internet gogo e snacks Mãe Terra (fonte: Melhores Destinos)

A GOL, em suas palavras, quer ser reconhecida como a companhia aérea que mais oferece conforto aos passageiros no Brasil. E não como a companhia que oferece os menores preços sempre. Ela sabe que brigar por preço é muito importante mas que isso não é o principal, pois essa é uma briga desgastante e sem fim. O consumidor atual quer preço justo e também quer relações confiáveis com as marcas que consome.

Vou esperar atenta para ver como essas mudanças ocorrerão e se elas serão bem implantadas. Mas, desde já vou torcer para que essas mudanças também inspirem os concorrentes da GOL a melhorarem cada vez mais. E que assim possamos nos orgulhar cada vez mais nossas das marcas brasileiras.

Nova campanha GOL (fonte: site voegol)

A marca dos Correios é um plágio?

Em maio os Correios lançaram nacionalmente sua nova identidade visual, e eu opinei sobre esse caso aqui. Ao meu ver o resultado - apesar de abaixo do esperado - ainda teve um saldo positivo ao engajar funcionários e modernizar a imagem tão desgastada da empresa. Em termos de branding os Correios conseguiram acertar, mas e em termos técnicos de estrutura? Nem tanto.

As opiniões se dividiram - entre o público leigo a aceitação positiva do novo logo dos Correios foi quase total, já entre o público da área houve indignação devido ao trabalho decepcionante de uma empresa que ganhou muito por um projeto enorme. Realmente, se analisarmos por uma ótica puramente gráfica o logo apresenta dois problemas: uma tipografia mal construída e um símbolo genérico. 

Na parte de tipografia, um bom artigo foi o da Marina Chaccur, e eu tenho que concordar com ela em alguns pontos, principalmente em relação às falhas tipográficas do logotipo Correios. Por fim vemos letras mal planejadas e mal executadas, inaceitável para um projeto dessa magnitude. 

tipografia correios


Análises do logotipo feitas por Marina Chaccur

Quanto ao símbolo, quando o logo foi divulgado várias pessoas acusaram os Correios de plágio, enviando imagens de diversas marcas, algumas similares e outras nem tanto. A nova identidade dos Correios foi registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), isso significa que ela foi aceita como única e original e está protegida por lei. Mas isso não impede que reflitamos sobre possíveis coincidências gráficas existentes no mercado.

marcas iguais correios

Alguns exemplos apontados como similares à marca dos Correios

Dentre as acusações uma me chamou à atenção. Meses antes de lançarem a marca dos Correios uma empresa do Espírito Santo redesenhou sua identidade de forma muito semelhante. A Polimix Distribuidora apresenta um logo com setas similarmente posicionadas, se diferenciando apenas nos cantos retos e na cores. 

correios plágioComparação entre Correios e Polimix, marca lançada ano passado

O projeto da Polimix, realizado pela Life Brand, custou R$ 8 mil segundo a agência, já o dos Correios é a CDA Branding & Design e teve um custo divulgado de R$ 390 mil. Como uma diferença tão grande de orçamento pode gerar projetos incrivelmente similares?

Muita gente se pergunta, é plágio ou não? 
A minha resposta para essa pergunta é: não é plágio, é apenas genérico demais.
A gente não vai recorrer legalmente a um direito sobre isso. Por ser uma marca gráfica muito genérica - duas setas -, acho difícil afirmar que foi uma cópia. Não acredito que foi intencional" Igor Franzotti , sócio e diretor de criação da empresa Life Brand.
O genérico permite uma série de interpretações, uma série de histórias que podem ser contadas para explicar a mesma coisa, já que ela por si própria não diz muito. As setas podem significar “uma poderosa capacidade para conectar pessoas”, “proximidade, inovação, flexibilidade, dinamismo”, podem representar uma distribuidora, ou até mesmo alguma outra empresa. Ou seja, elas podem dizer muito e não dizer nada - esse é o problema e a solução do uso do genérico.


Correios x Polimix: um símbolo que pode significar uma gama de coisas

Uma marca como os Correios deve estar acima do genérico e de uma tipografia mal construída, é uma marca que deveria ter relevância, que aporta conceitos nacionais e que representa serviço muito importante para o país. É uma marca que custará ao todo R$ 42 milhões e, apesar de uma boa comunicação e estruturação de marketing, publicidade e endobranding, peca na parte gráfica ao investir no genérico.

A marca Correios cumpre sua tarefa, mas de forma totalmente burocrática e sem emoção. Não sei se por processos engessados da estatal ou por medo da agência de design, mas quando um projeto de R$ 390 mil pode ser equiparado em qualidade gráfica à um de R$ 8 mil, tem algo errado.

Mesmo sendo um redesenho da logo anterior faltou um pouco de ousadia e qualidade técnica para um projeto de tamanha magnitude.

Mas plágio não é.


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